futuro?

antes do blablabla, folhinhas:














aconteceu noutro dia um debate sobre o futuro dos quadrinhos no brasil aqui, assunto que fora levantado aqui, aqui e meio que aqui também.

eu não tenho propriedade para dar uma opinião mais embasada, mas afinal esse aqui é um blog na internet, e a rede tá cheia de besteira então mais uma não tem problema. mesmo assim, vou escrever o que acho do MEU futuro nos quadrinhos, que para existir precisa passar pelo presente (e o presente precisa acontecer logo...)

o futuro dos quadrinhos pra mim passa por 3 "macro" coisas:

1- aumento quantitativo e qualitativo da produção.
2- fortalecimento do produto quadrinhos no mercado.
3- renovação dos players.

a 1 é óbvia, a produção precisa crescer e melhorar. o problema é que quando pensamos nisso, só vem uma coisa a mente: sentar e desenhar. já eu acho que não é o bastante. quando falamos de qualidade, ela precisa ser total. significa que o quadrinhista precisa ter também qualidade nas horas que trabalha, ou seja, é foda o sujeito fazer hq depois do trabalho e nos fins de semana. e qualidade de periodicidade, é foda a previsão de TODAS as hqs de saírem "quando der". isso faz mal pro quadrinhista, pro leitor e, consequentemente, pro mercado. qualidade está em todos os aspectos, diretos e indiretos, da produção.

para lidar com isso, peguei os exemplos do cinema e do esporte. cinema nacional teve e tem muita produção, e melhorou. ainda está, talvez, longe do seu potencial maior, mas melhorou. esporte mesma coisa, modalidades que antes não chamavam nenhuma atenção hoje tem "heróis" nacionais, só aconteceu devido a "produção" constante dos atletas, muito treino e competições.

em comum entre eles, o patrocínio privado, incentivado ou não, e a publicidade comprada. por isso, MEU futuro penso que deva passar por esse caminho também. eu não acredito muito em editoras, falo melhor disso depois, pelo fato delas não terem interesse de absorver toda essa produção.

ou isso, ou capital direto privado, com a associação de um capitalista de risco. basta provar que quadrinhos é rentável no longo prazo (digamos 6, 7 anos) e que os ganhos serão proporcionais aos riscos. e isso é duro eim! no fundo, muitos acreditam que o quadrinho vai acabar como mídia comercial. temos medo de colocar no papel as projeções financeiras, e descobrir que não vale a pena. por isso, é preciso pensar diferente, fazer de um jeito que seja lucrativo. como? sei lá.

eu acho ótimo que exista a lei de incentivo a cultura. deixa tudo na minha mão e se eu me esforçar tenho o capital necessário para tocar essa produção quantitativa e qualitativa. pra que eu tenha futuro, preciso cair mais dentro do aspecto que ainda me ferra, a captação de recursos, ou a venda do projeto. isso irá me tomar bastante tempo nesse e no próximo ano.

no item 2 a coisa complica. o MEU quadrinho precisa se posicionar melhor do ponto de vista do mercado. é complicado, mas eu não acredito em livraria. isso pq o quadrinho de livraria não é sustentável. o autor não ganha o suficiente para se manter produzindo, e sinceramente os intermediários ganham demais pro papel que desempenham. entre o autor e o leitor, há a editora, a gráfica, a distribuidora e a loja. e são players passivos, que fazem tudo do mesmo jeito há décadas. do preço de capa, 10% vai pro autor. pra comparar, na Apple App Store, que vende produtos pra Iphone, inclusive hqs, a Apple fica com 30%, e vc, 70.

pro MEU futuro existir, não dá pra entregar 90% pra intermediário. pode ser que eu tenha que fazer isso, mas se eu quiser ter futuro, o jogo vai ter que mudar em algum ponto nesse futuro ou agora mesmo.

para posicionar melhor o produto e fazer com que ele renda mais, vou precisar estender a vida útil dele. eu tenho um trabalhão pra fazer o quadrinho. preciso ganhar mais por unidade, e não acredito em preço alto. hq é um produto de luxo só pra quem é fanboy. não dá pra provar o porquê de um gibi p&b de 100 páginas custar 40 reais na livraria. é diferente de uma ferrari, todo mundo sabe pq é caro. alguma coisa me diz que MEU futuro está em popularizar meu produto. vender barato, mas vender mais. e eu não acredito que isso significa necessariamente estar em bancas, mega tiragens e coisa e tal. isso é pensar igual demais ao que sempre foi pensado.

para isso, vou ter que fazer como o cinema. o filme estréia na telona, vai pro DVD, depois pro pay-per-view (a cabo, satélite, itunes, ipod, psp, etc), depois pra TV a cabo e por fim Tv aberta. pra cada coisa nova, pinga um dinheiro sem vc precisar fazer um novo filme. pra eu ter fufuro, tenho que fazer isso, encontrar um ciclo de rentabilidade. alguns dizem que é a internet, depois impressos simples, coletâneas de impressos, conteúdo pra celular etc. será?

ainda está aí? no item 3, uma coisa não tão óbvia. é preciso renovar os jogadores desse jogo. no MEU futuro, vou ter que passar o bastão (opa!) pra novas gerações. incrível como isso não acontece hoje. os mesmos erros se repetem, e todo mundo tem que começar do zero. se eu não me preocupar desde cedo com isso, minha coisa morre comigo. verdade seja dita, não se pode culpar mercado ou plano isso plano aquilo, quem é culpado pela coisa não andar, diminuir ou sumir somos nós mesmos.

isso é muito sério. e é uma coisa do brasil inteiro, em vários setores. basta ver como lidamos com a questão da escola, da educação. não cuidar dos novos jogadores que um dia serão titulares é ver tudo que foi aprendido e construído ser jogado fora. é um trabalho de gestão de conhecimento, a velha relação mentor-discípulo. eu queria muito ter um mentor. no MEU futuro, se eu não cuidar da minha sucessão, morro pobre.

nada disso é fácil. existem chances? vale o esforço? tem dias que acho que sim, em outros acho que não.